Maria Cristina Lopes Quando a mente está leve a dança flui Psicologia da dança

Quer aprender a dançar melhor, criar metas, diminuir a ansiedade e se sentir melhor?

Foi um processo de estudo em que percebemos que a dança não é apenas uma linguagem corporal, ela é também um meio de cura e tratamento psicológico. Desenvolvi as aulas com Gabriela em cima de suas limitações e fraquezas. Percebi que seus movimentos estavam bloqueados pois, sua autoestima estava afetada negativamente na sua totalidade. Os seus gestos foram aflorando a partir do momento em que a ela foi verbalizando através de uma linguagem corporal simples, mas trazendo uma carga emocional muito intensa nos movimentos. O processo teve a duração de um ano, com Gabriela relatando toda sua vivência e suas expressões corporais. Conclui através desse trabalho, que a paralisia cerebral e suas limitações não passavam de um bloqueio que ela tinha com ela mesma.

Desenvolvi uma trilha sonora que refletisse a vida de Gabriela. Ela utilizava a técnica de improvisação e aos poucos fui notando que a dança estava sendo uma terapia, e que suas limitações estavam se ampliando em movimentos. Ao estimular a Gabriela, o outro lado do cérebro que estava apagado, foi acordado.

pessoa em cadeira de rodas
gabriela dançando em cadeira de rodas com mateus

Projeto dançando sobre rodas

Mateus Vasconcellos. Bailarino e Professor de dança inclusiva. 
Contato: 12992050934

Hoje Gabriela tem seu registro como profissional da dança, desenvolveu um espetáculo inteiro relatando a sua vida através da dança, saiu da cadeira de rodas e conseguiu andar. Sua fala é muito melhor, sua aceitação como deficiente física é extremamente surpreendente. Ela encara sua deficiência como um presente que a vida lhe deu, e que a cada aula ela desenvolve mais suas habilidades e confiança.

Como profissional da dança e com este trabalho pude observar que a dança vai muito além da técnica e da teatralidade. A dança, vinda da simplicidade da alma, do despertar no outro o olhar para o mundo de uma forma diferente, da descoberta corporal trouxe-me o entendimento de que minha limitação está escondida nos meus pensamentos e a verdadeira dança brota do querer descobrir-se sempre, pois ela nos faz entender quem somos e aceitarmos nossos defeitos. Curar se é sinônimo de dançar, pois não há momento mais sublime e verdadeiro do que aquele em que dançando esquecemos a pressão diária, os nossos problemas. Dançar sem medo de cair, ou errar. Dançar é saber que o resultado de todo o trabalho, é construído diariamente na sala de aula, é construído no olhar para o aluno além de seus potenciais e limitações, é entender seus bloqueios e fazer da melodia um caminho leve e consciente para seu aluno.

Ensinar é entender que a dança é a cura para todos os nossos problemas, eis o grande segredo das nossas limitações. Quando entendemos que quem dança sente-se livre e sem pressões psicológicas, é nesse momento que nos trancamos no quarto e colocamos uma música e não temos mais medo de ser quem somos. Passamos a observar nossa dança como meio de salvação de vidas, deixamos às vezes de lado a metodologia e colocamos uma música para que  nossos alunos, deixem-se voar e sentir a pulsação. Deixamos que eles entendam que a dança só é construída artisticamente, através da verdade que trazem dentro de si, e que tudo que for agregado é apenas um fator técnico, pois o que reluz num palco, é a alma de ser artista.


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Referência: Carolina Souza Fotografia

O projeto Dançando Sobre Rodas nasceu das minhas aulas na Eloo Escola de Dança na cidade de Taubaté-São Paulo, para Gabriela Carvalho, 32 anos, portadora de paralisia cerebral. Sentimos a necessidade de mostrar o que estávamos trabalhando para as outras pessoas que possuem algum tipo de deficiência física. Então começamos a postar vídeos das aulas na nossa página no facebook, Dançando sobre Rodas, e isso ajudou as pessoas não somente na parte da movimentação corporal, mas também na parte psicológica. O projeto foi se desenvolvendo até criar seu primeiro espetáculo, Between.

A minha grande preocupação criando o Between foi mostrar às pessoas o quanto todos nós somos deficientes e o quanto a deficiência não é só física mas psicológica também. O trabalho feito com a bailarina Gabriela Carvalho, é muito mais que um espetáculo sobre uma cadeirante. Comecei a pensar em sua totalidade, em expandir a arte de dançar para outras pessoas e mostrando a superação e apontando deficiências que o ser humano não consegue enxergar.

O projeto Dançando sobre Rodas foi mais que um estudo corporal através da metodologia Laban, foi nossa maneira de entendermos o corpo e nossa técnica, para adaptarmos a linguagem contemporânea às duas rodas. Claro que houve tombos, torsões e lesões, mas tudo isso fez com que crescêssemos e confiássemos um no outro.


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