Maria Cristina Lopes Quando a mente está leve a dança flui Psicologia da dança

REFERÊNCIAS: 


Bläsing, B., Calvo-Merino, B., Cross, E. S., Jola, C., Honisch, J., & Stevens, C. J. (2012). Neurocognitive control in dance perception and performance. Acta psychologica, 139(2), 300-308.


Berardi, G. (2017). Dance Psychology for Artistic and Performance Excellence. Journal of Dance Medicine & Science, 21(3), 132-133.


de Lima, D. M., Abreu, N., & Neto, S. (2011). Danças brasileiras e psicoterapia: um estudo sobre efeitos terapêuticos. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 27(1), 41-48.


Franklin, E. (2003). Conditioning for Dance: Training for Peak Performance in All Dance Forms. Human Kinetics, PO Box 5076, Champaign, IL 61825-5076.


Lewis, C., Annett, L. E., Davenport, S., Hall, A. A., & Lovatt, P. (2016). Mood changes following social dance sessions in people with Parkinson’s disease. Journal of health psychology, 21(4), 483-492.


Lovatt, P. (2013). Dance Psychology: The Power of Dance across Behaviour & Thinking. Psychology Review.


Martin, R. A., Kuiper, N. A., Olinger, L. J., & Dance, K. A. (1993). Humor, coping with stress, self-concept, and psychological well-being. Humor, 6, 89-89.


Mills, L. J., & Daniluk, J. C. (2002). Her body speaks: The experience of dance therapy for women survivors of child sexual abuse. Journal of Counseling & Development, 80(1), 77-85.


Murrock, C. J., & Graor, C. H. (2014). Effects of dance on depression, physical function, and disability in underserved adults. Journal of Aging and Physical Activity, 22(3), 380-385.


Ringham, R., Klump, K., Kaye, W., Stone, D., Libman, S., Stowe, S., & Marcus, M. (2006). Eating disorder symptomatology among ballet dancers. International Journal of Eating Disorders, 39(6), 503-508.


Scharoun, S. M., Reinders, N. J., Bryden, P. J., & Fletcher, P. C. (2014). Dance/movement therapy as an intervention for children with autism spectrum disorders. American Journal of Dance Therapy, 36(2), 209-228.


Stoeber, J. (2014). Perfectionism in sport and dance: A double-edged sword. International Journal of Sport Psychology, 45(4), 385-394.


Taylor, J., & Taylor, C. (1995). Psychology of dance. Human Kinetics Publishers.


COMO FAZER REFERÊNCIA A ESTE ARTIGO:


Lopes, M. C. (2018, março 18). O que é a psicologia da dança? [Blog]. Recuperado de: http://www.mariacristinalopes.com/o-que---a-psicologia-da-dan-a----psicologia-da-dan-a.html

Maria Cristina Lopes. Sou formada pela PUC-Rio e mestre pela Universidade de Coimbra. Trabalho com a dança desde 2013 e desenvolvi o 1º curso de psicologia da dança do Brasil em 2016. Sou defensora da área de psicologia da dança, atendo bailarinos, ofereço consultoria para escolas e companhias e capacito professores e psicólogos nesta área promissora.
Contatos: mariacristinalopes@gmail.com | +55 21 990922685

mulher com sapatilhas de ponta dançando

Por psicologia da dança não estamos nos referindo apenas a compreender questões psicológicas relacionadas ao movimento artístico ou terapêutico. Ou seja, o que nos importa não é somente o bailarino. Estamos sim nos referindo a aplicação e estudo de todas as áreas da psicologia (psicologia do rendimento, psicologia escolar, psicologia da saúde, psicologia clínica, etc.) à área da dança.

A psicologia da dança não se preocupa apenas com os efeitos da dança em bailarinos, ou ainda, em melhorar questões cognitivas e emocionais nestas populações. Apesar de, obviamente, esta também ser uma preocupação da psicologia da dança (Franklin, 2003, Martin et al., 1993, Bläsing et al., 2012, Berardi, 2017, Stoeber, 2014). Os objetos de estudo da psicologia da dança são, naturalmente, os bailarinos, mas também, todos os envolvidos com a área da dança (bem como alunos e professores) além da população de forma geral com o objetivo de compreender os efeitos da dança para populações específicas (Lewis, et al., 2016, Scharoun et al., 2014, Murrock & Graor, 2014).

Portanto, esta área de conhecimento é muito ampla com muitos temas a serem investigados. A psicologia da dança conta com muitos estudos exploratórios especialmente por ainda estar em estágios iniciais de investigação. Em muitos casos a entrevista é a técnica de recolha de dados que mais se adéqua a este objetivo nestas investigação. Algumas populações que já foram estudadas por meio de entrevistas para compreender os efeitos da dança foram praticantes adultos de danças populares brasileiras (de Lima & Abreu, 2011), mulheres adultas que sofreram abuso sexual (Mills e Daniluk, 2002) e jovens bailarinos (Ringham et al., 2006).

Em relação ao primeiro grupo (praticantes adultos de danças populares brasileiras) foram estudados os efeitos da dança em vários aspectos. Os ganhos a partir da entrada no grupo foram relatados a partir de modificações internas - “estar mais desperto, perda da timidez, melhor posicionamento perante os outros, sentir­-se com mais atividade e mais feliz, senti-se importante como pessoa, fortalecimento de autoconfiança” (de Lima & Abreu, 2011, p.44) -, ampliação do conhecimento; modificação na relação com as pessoas e modificações do aspecto artístico. Apenas 2% dos participantes não perceberam mudanças. O valor dado ao grupo pelos participantes foi especialmente relatado pela aquisição cultural e pela aquisição de informação, educação e lazer. A relação com o grupo, o movimento, a música, a percepção de mudanças internas e a possibilidade de esquecer os problemas foram os fatores associados ao valor terapêutico. (de Lima & Abreu, 2011).

“é a relação grupal, na forma como se apresenta hoje, o grande propiciador de efeitos terapêuticos percebidos pelos integrantes, e não a situação artística isoladamente. A arte da dança ocupa um lugar modesto na busca de identificação da presença de um valor terapêutico dentro do grupo em questão.” (de Lima & Abreu, 2011, p.46).

O estudo com mulheres adultas que sofreram abuso sexual também procurou compreender os efeitos da dança. A expressão autêntica de si mesmas através do movimento foi uma das principais questões relatadas pelas participantes como positiva. Sair do processo mental e de fala e usar o movimento como alternativa em direção a cura e como forma de se reconectar com seus corpos também foi relatado como positivo. O grupo também trouxe aspectos relevantes para o processo de terapia, desde presenciar o movimento e expressão do outro até conexão com o outro e suporte, apesar do grupo também trazer certa vulnerabilidade para a expressão individual. Os autores concluem que há demandas corporais que devem ser incluídas no processo de psicoterapia regular (Mills e Daniluk, 2002).

Por último, o estudo com amostra de bailarinos jovens investigou a prevalência de transtornos alimentares em 29 bailarinos (Ringham et al., 2006). Foram utilizados inventários e entrevistas para diagnosticar transtornos alimentares e examinar sintomas. Foram utilizados inventários e entrevistas para diagnosticar transtornos alimentares e examinar sintomas. Muitos participantes apresentaram comportamentos compensatórios e de purgação. Bailarinos, de forma geral, apresentaram atitudes e comportamentos similares aos sujeitos com transtornos alimentares. A maioria dos sujeitos apresentou transtornos alimentares. A partir destes dados este estudo comparativo indica uma alta prevalência de transtornos alimentares em bailarinos. Os estudos apresentados ilustram os estudos e interesses da psicologia da dança. Como muitas outras ciências, a psicologia da dança vem para erguer ainda mais o fascinante mundo da dança.


​>>Confira o artigo "A dança como terapia para sintomas de depressão". 

A psicologia do esporte é um ramo da ciência que surgiu nas últimas décadas. Esta área da psicologia já estudou muitos fatores psicológicos importantes e tem o objetivo, principalmente, de melhorar o rendimento dos atletas. Esta melhora de desempenho pode ocorrer pelo trabalho nos aspectos cognitivo, emocional, comportamental ou psicológico. Outro interesse muito comum de estudos da psicologia do esporte é compreender os efeitos do esporte e da atividade física para populações específicas. A partir destes interesses surge também a psicologia da dança.

A dança data de muito antes da psicologia. A dança não técnica surge paralela ao surgimento do ser humano. A partir do surgimento da dança técnica na sociedade decorrem algumas questões, como, por exemplo, o interesse em melhorar o desempenho de dançarinos e compreender os efeitos da dança nas pessoas que praticam. A psicologia da dança nasce como área de estudo para responder a estas e outras questões. Ao estudar a dança, os bailarinos, instituições e os efeitos da dança o psicólogo se insere em escolas e companhias de dança a fim de melhorar o desempenho e bem-estar de bailarinos e desenvolver projetos que utilizem a dança como promotora de saúde. Porém, esta exposição ainda é genérica para definir a psicologia da dança que exige um aprofundamento sobre a própria nomenclatura e seus interesses.

A psicologia aplicada à dança possui predominantemente duas nomenclaturas. São elas “dance psychology” (Lovatt, 2013) e “psychology of dance” (Taylor & Taylor, 1995). Ambas podem ser traduzidas de forma livre como “psicologia da dança” e é assim que iremos nos referir a esta área do conhecimento.

O que é a psicologia da dança?