A dança tem muitos elementos similares ao esporte. Assim como no esporte temos os eventos competitivos: os festivais de dança que podem ser locais, regionais, nacionais ou internacionais. Além disso, temos o ambiente permeado pela competição entre dançarinos em grupos e companhias, assim como há em clubes e agremiações. Além disso, a busca por excelência no desempenho físico e técnico nos faz considerar que, de fato, a dança e o esporte são muito similares. No entanto, a dança tem um elemento muito especial que está no seu cerne: a arte. Esta é uma das principais característica que distingue a dança e que a torna única. 


No entanto, vamos abordar uma das características muito presentes tanto no esporte como na dança: a competição. 


A competição em esporte, atividades físicas e dança pode ser grande fonte de estresse. Este elemento especial – a competição – pode ocorrer em qualquer ambiente em que exista interação social. Porém, neste artigo a referência é à competição esportiva e festivais de dança em que medalhas, prêmios, carreira e reputação estão em jogo. Esta pode ser uma situação enfrentada em qualquer etapa de vida em que o objetivo do envolvimento com a atividade seja o rendimento. Segundo de Rose Junior (2008) “competição (seja entendida como processo ou como momento final) é, sem dúvida, uma fonte inesgotável de situações causadoras de estresse” (p.25).

Uma grande questão de estudos neste sentido é compreender se o estresse altera o rendimento durante a competição. Esta é uma preocupação da área da psicologia do esporte. Em estudo realizado com 22 bailarinas de 18 a 30 anos experientes – que já passaram por situações competitivas antes – o rendimento não sofreu alterações devido à ansiedade gerada pela competição (Leite, De Mello & Antunes, 2016). As bailarinas parecem saber lidar com a competição e completaram com qualidade a tarefa. Apesar disso, a ansiedade parece estar bem presente em contextos competitivos de dança (Andreeva & Karanauskienė, 2017). É também possível que seja necessária experiência com a competição para que o bailarino aprenda a lidar com a competição.

Existem muitos fatores que podem gerar estresse competitivo em atletas: o ambiente, o próprio atleta e os competidores (Samulski & Chagas, 1996). Além destes fatores, a avaliação pode ser uma grande fonte de estresse (Neil, Hanton, Mellalieu & Fletcher, 2011). Em alguns casos atletas podem utilizar estratégias cognitivas para lidar com o estresse competitivo (Kristiansen & Roberts, 2010, p. 690).


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bailarinas dançando com tutu branco

Dança é esporte? A competição na dança e no esporte e seus efeitos no bem-estar

Maria Cristina Lopes. Sou formada pela PUC-Rio e mestre pela Universidade de Coimbra. Trabalho com a dança desde 2013 e desenvolvi o 1º curso de psicologia da dança do Brasil em 2016. Sou defensora da área de psicologia da dança, atendo bailarinos, ofereço consultoria para escolas e companhias e capacito professores e psicólogos nesta área promissora.
Contatos: mariacristinalopes@gmail.com | +55 21 990922685

REFERÊNCIAS:

Andreeva, V., & Karanauskienė, D. (2017). Precompetitive emotional state of dancesport athletes. Baltic Journal of Sport & Health Sciences, (2), 2-13.

de Rose Junior, D. (2008). A competição como fonte de estresse no esporte. Revista Brasileira de Ciência e Movimento, 10(4), 19-26.

Kristiansen, E., & Roberts, G. C. (2010). Young elite athletes and social support: Coping with competitive and organizational stress in “Olympic” competition. Scandinavian Journal of Medicine & Science in Sports, 20(4), 686-695.

Leite, G. S. F., De Mello, M. T., & Antunes, H. K. M. (2016). Competição na dança clássica: um fator ansiogênico negativo?. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, 30(3), 793-803.

Neil, R., Hanton, S., Mellalieu, S. D., & Fletcher, D. (2011). Competition stress and emotions in sport performers: The role of further appraisals. Psychology of sport and exercise, 12(4), 460-470.

Sadir, M. A., Bignotto, M. M., & Novaes Lipp, M. E. (2010). Stress e qualidade de vida: influência de algumas variáveis pessoais. Paideia, 20(45), 73-81, doi:10.1590/S0103-863X2010000100010

Samulsky, D., & Chagas, M. H. (2008). Análise do stress psíquico na competição em jogadores de futebol de campo das categorias infantil e juvenil (15-18 anos). Revista Brasileira de Ciência e movimento, 6(4), 12-18.


COMO FAZER REFERÊNCIA A ESTE ARTIGO:


Lopes, M. C. (2018, março 2) A competição na dança e no esporte e seus efeitos no bem-estar [Blog]. Recuperado de: http://www.mariacristinalopes.com/a-competi--o-na-dan-a-e-no-esporte-e-seus-efeitos-no-bem-estar---psicologia-da-dan-a.html 

maria cristina lopes psicóloga da dança
Maria Cristina Lopes Quando a mente está leve a dança flui Psicologia da dança

Apesar da dança, do esporte e da atividade física poderem trazer inúmeros benefícios, quando há um contexto competitivo esta afirmação deve ser feita de forma cuidadosa. Sendo a competição fonte de estresse e a emoção um fator essencial para o bem-estar naturalmente estas atividades também podem ser causadoras de grande sofrimento. Além deste fator, parece haver uma tendência de que atletas mais experientes demonstrem maior estabilidade emocional que atletas mais jovens e inexperientes (Samulski & Chagas, 1996).

Em estudo recente a qualidade de vida estava afetada em participantes com estresse (Sadir, Bignotto & Novaes Lipp, 2010). Portanto, o estresse competitivo poderia interferir na qualidade de vida do atleta ou bailarino que se insere em contextos competitivos. Obviamente há certas populações mais sujeitas ao estresse (Sadir, Bignotto & Novaes Lipp, 2010) e pessoas em contexto competitivo podem representar uma população de risco.

Em outros estudos buscou-se compreender os efeitos da atividade física, do esporte e da dança no bem-estar enquanto atividades de lazer. Portanto, os resultados destes estudos devem ser analisados desta maneira. Quando o atleta ou bailarino é profissional ou pratica esporte ou dança de alto rendimento em ambientes competitivos os resultados em relação à promoção de bem-estar podem não se manter.

O esporte recebe grande importância no cenário mundial nos âmbitos da saúde e social. A dança também já foi apontada como forma de desenvolvimento pessoal e social. A atividade física, além de melhorar aspectos físicos também pode contribuir para o desenvolvimento emocional. Alguns estudos analisados foram estudos-piloto ou com amostras pequenas o que leva a uma análise cuidadosa. É necessário que os próximos estudos avaliem a intensidade, frequência e há quanto tempo os participantes praticam a atividade para compreender se estes fatores interferem no bem-estar visto que não foram todos os estudos revistos que continham estas informações.

O envolvimento com a atividade física, dança e esporte, de forma geral, contribui para fatores psicológicos, emocionais, comportamentais e sociais. Algumas destas contribuições foram: diminuição de sintomas de depressão e ansiedade, vinculação social, aumento de níveis de bem-estar, aumento dos níveis de satisfação com a vida e aumento de níveis de qualidade de vida. Além disso, a frequência e intensidade da atividade física também interferem no bem-estar. Em contextos competitivos alguns destes sinais podem não ser encontrados e sinais de ansiedade e estresse podem ser observados.

Podemos concluir que o esporte, a dança e a atividade física são promotores de bem-estar. Estas atividades devem ser consideradas para este objetivo e recomendadas às populações que já foram estudadas em estudos que apresentaram bons resultados.


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Palavras-chave: esporte, dança, bem-estar, competição.