Maria Cristina Lopes Quando a mente está leve a dança flui Psicologia da dança

3 teorias para conhecer e potencializar o aprendizado da dança

A importância de buscar novos conceitos

Ao contrário da maioria das profissões, quem trabalha com dança começa a trajetória de preparação muito cedo, muitas vezes ainda criança — ainda como aluno. Com isso, grande parte da didática aprendida se dá por meio dos ensinamentos passados por mestres. Apesar dessa inegável contribuição, buscar apoio sob o olhar de outras teorias podem auxiliar esses profissionais na construção de um repertório ainda mais rico. Na dança, quando se fala em aprendizagem, é fundamental destacar a importância da estratégia de ensino. E é exatamente neste contexto que se faz necessário não apenas cumprir o básico, mas ultrapassar barreiras.

1. As Crenças de Auto-Eficácia 

É do psicólogo Albert Bandura que vem o principal conceito de Autoeficácia: 

“Julgamento das próprias capacidades de executar cursos de ação exigidos para se atingir certo grau de performance”. 

Este estudo pode ser aplicado ao ensino e aprendizagem da dança, uma vez que está diretamente relacionado às questões de motivação do aluno. Segundo Bandura, a crença de autoeficácia é a convicção que cada pessoa tem de que consegue ou tem habilidade suficiente para resolver um problema ou cumprir determinada tarefa.  O aluno que se sente capaz de cumprir certa função, por conseguinte, sente-se motivado a colocar a proposta em prática. 

“Portanto, as crenças de autoeficácia influenciam nas escolhas de cursos de ação, no estabelecimento de metas, na quantidade de esforço e na perseverança em busca dos objetivos”, (Bzuneck, 2001).

Dessa forma, as crenças de autoeficácia sugerem que o professor busque formas de proporcionar experiências de êxito para os alunos, pois isso terá influência direta na motivação. Além disso, também destaca a importância de verbalizar expectativas positivas durante o aprendizado e evitar frases que possam gerar dúvidas em relação à capacidade que o estudante acredita ter.  

A diversidade de fatores que influencia no processo de aprendizagem da dança faz com que não seja possível aplicar uma única grande fórmula para alcançar o sucesso nesse processo. Contudo, é possível encontrar apoio na contribuição de teorias aplicadas ao ensino, que se utilizadas da maneira correta, podem potencializar os resultados das técnicas passadas de professor para aluno. 

Diferentemente de receitas prontas, esses conceitos trazem um diferencial quando o intuito é ampliar o olhar e o repertório sobre o ensino e aprendizagem da dança. E para aproveitar ao máximo os benefícios, este artigo traz uma curadoria de 3 teorias que podem ser aplicadas de forma imediata.  

maria cristina lopes psicóloga da dança

2. David Ausubel e a aprendizagem significativa

A aprendizagem significativa destaca a importância de o professor tomar ciência dos conhecimentos prévios do aluno. Somente assim, torna-se possível construir estratégias de aprendizado que façam real sentido para quem estiver aprendendo. Esse conceito foi proposto pelo pesquisador e especialista em Psicologia Educacional, David Paul Ausubel. Segundo o autor, a chave para potencializar o aprendizado está nos conhecimentos que o aluno carrega em sua bagagem. Dessa forma, quanto mais se sabe, mais se aprende. 

"O fator isolado mais importante que influencia o aprendizado é aquilo que o aprendiz já conhece". Ausubel 

Observa-se então, a necessidade de uma conversa prévia sobre o histórico do aluno — seja sobre experiências em outras escolas ou até mesmo de referências musicais. Essa ação ajudará o professor a compreender o que deve esperar do aluno, inclusive, as expectativas em relação ao tempo para absorver o que será ensinado. 


>>Leia também: Psicologia da Dança: Estratégias de motivação em aulas de dança

3. Vygotsky e as teorias da aprendizagem

Vygotsky trata de diversos temas que envolvem a aprendizagem. Um deles pode ser destacado pelo poder de proporcionar mudanças positivas no modo de ensinar a dança: a Zona de Desenvolvimento Proximal. Aplicada à aprendizagem da dança, a Zona de Desenvolvimento Proximal pode ser visualizada em três etapas: 

Etapa 1: Representa o "Eu não sei fazer". O aluno sente que pode tentar por diversas vezes, mas não consegue concretizar aquela coreografia. 

Etapa 2: "Eu consigo fazer, mas com a ajuda de outra pessoa". 

Etapa 3: "Eu consigo fazer sozinho". 

É interessante fazer essa observação para identificar em qual dessas etapas o aluno está. Então, ajusta-se o ensino, preparando estratégias para que o aprendiz consiga avançar a etapa. 

Outro aspecto destacado por Vygotsky se dá em relação ao processo de interação social. “Para Vygotsky, o sujeito é ativo, ele age sobre o meio. Para ele, não há a "natureza humana", a "essência humana". Somos primeiro sociais e depois nos individualizamos" (Neves & Damiani, 2006).

No contexto da aprendizagem da dança, esse processo pode ser aplicado no incentivo à interação social, permitindo que os alunos se ajudem entre si. Muitas vezes os próprios colegas conseguem explicar a orientação do professor de outra maneira. Esse insight faz com que o aluno consiga realizar determinado movimento. 

No entanto, nem sempre os alunos possuem as competências necessárias para passarem feedbacks da maneira adequada. Por isso, embora essas relações já possam acontecer de maneira natural entre o grupo, a ideia é proporcionar dinâmicas em que o professor possa orientar as interações. 

Existem outras teorias importantes que também podem ser associadas às aulas para potencializar a aprendizagem da dança. Desse modo, esses três conceitos servem como ponto de partida para ampliar o olhar sobre questões que envolvem a didática aplicada para superar desafios durante a trajetória de ensino.  


​>> Leia também:  Como a neuropsicologia pode ser uma aliada no ensino da dança

REFERÊNCIAS:

Fernandes, E. (2011). David Ausubel e a aprendizagem significativa. Revista Nova Escola.

Bzuneck, J. A. (2001). As crenças de auto-eficácia e o seu papel na motivação do aluno. A motivação do aluno: contribuições da psicologia contemporânea, 116-133.

Neves, R. D. A., & Damiani, M. F. (2006). Vygotsky e as teorias da aprendizagem.


COMO FAZER REFERÊNCIA A ESTE ARTIGO:


Lopes, M. C. (2019, agosto 01) 3 teorias para conhecer e potencializar o aprendizado da dança [Blog]. Recuperado de: http://www.mariacristinalopes.com/3-teorias-para-conhecer-e-potencializar-o-aprendizado-da-dan-a---psicologia-da-dan-a.html

bailarinas dançando com tutu branco

Maria Cristina Lopes. Sou formada pela PUC-Rio e mestre pela Universidade de Coimbra. Trabalho com a dança desde 2013 e desenvolvi o 1º curso de psicologia da dança do Brasil em 2016. Sou defensora da área de psicologia da dança, atendo bailarinos, ofereço consultoria para escolas e companhias e capacito professores e psicólogos nesta área promissora.
Contatos: mariacristinalopes@gmail.com | +55 21 990922685

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