REFERÊNCIAS:

Féres, N. (2016). O despertar do ritmo e da consciência corporal na infância através das aulas de dança (Trabalho de Conclusão de Curso). Universidade Estadual Paulista, Instituto de Biociências de Rio Claro, Rio Claro, São Paulo, Brasil.


Lopes, M.C. (2019). Curso psicologia da dança: temas e perspectivas. Editora Garcia. Juíz de Fora, MG.


COMO FAZER REFERÊNCIA A ESTE ARTIGO: 

Lopes, M. C. (2020, outubro 1) Consciência corporal e expressão: por que a dança deve ser ensinada às crianças ainda na escola​ [Blog]. Recuperado de: https://www.mariacristinalopes.com/

“O corpo, o objeto, a ação, o pensamento, o outro, o eu, a percepção, a expressão, o afetivo, o racional, o real, o imaginário, tudo isso na infância, está inteiramente ligado. Todos esses elementos vão se aflorando e se diferenciando ao longo do tempo e aos poucos” (Féres, 2016)

Maria Cristina Lopes. Sou formada pela PUC-Rio e mestre pela Universidade de Coimbra. Trabalho com a dança desde 2013 e desenvolvi o 1º curso de psicologia da dança do Brasil em 2016. Sou defensora da área de psicologia da dança, atendo bailarinos, ofereço consultoria para escolas e companhias e capacito professores e psicólogos nesta área promissora.

Contatos: mariacristinalopes@gmail.com | +55 21 990922685

Gabriela Romão. Jornalista formada pela Universidade de São Paulo (USP), é especializada em escrita científica. Estuda dança desde 2016, com ênfase em modalidades de dança de salão.

Contatos: gabi.r.romao@gmail.com | @romaogabriela

Hoje, vivemos em um mundo que caminha para um contexto altamente globalizado e tecnológico, mesmo que de maneira desigual. Impulsionadas pela urbanização crescente, boa parte de nossas crianças sofrem, geração a geração, a perda das vivências corporais necessárias ao seu desenvolvimento, ficando cada vez mais confinadas a uma tecnologia, uma cama ou um sofá. O resultado é um prejuízo enorme na maturação das capacidades e habilidades dos pequenos. Será que a dança é capaz de mudar essa realidade?

Para responder a essa pergunta, precisamos ter alguns conceitos em mente. Pensar na relação da criança com o seu corpo é pensar no desenvolvimento da sua psicomotricidade, ou seja, o desenvolvimento do seu movimento e de sua relação com o mundo interior e exterior, bem como de sua maturação, que está relacionada com todas as aquisições cognitivas e afetivas feitas ao longo da vida. 


O conceito de psicomotricidade inclui elementos como coordenação motora, equilíbrio, lateralidade, relação espaço/temporal e ritmo – consideradas essenciais para o desenvolvimento global da criança. Mas por trás desses elementos, muito mais conectadas às dimensões físicas e objetivas do movimento, a dança é capaz de desenvolver na criança a sua consciência corporal e expressividade, qualidades que se expandem para muito além da dança - e para muito além da infância.

Isto, porque a dança é uma atividade que depende do funcionamento conjunto de mente e corpo, instigando e aprimorando essa relação. Através do aprendizado da dança, a criança não só se relaciona mais profundamente com o mundo exterior, como passa a conhecer e compreender o próprio corpo e a ter domínio sobre ele. Aos poucos, a criança passa a conhecer melhor a si mesma e entender, conscientemente, que o corpo não é apenas um meio de execução de movimentos, e sim um meio de expressão daquilo que ela pensa, sente e é.


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Para construir tudo isso, são necessárias experiências contínuas, que farão a criança entender que o corpo é um meio de comunicação e de expressão de seus pensamentos, sentimentos e emoções. Implementar aulas de dança contínuas na Educação Física nas escolas é essencial, bem como o trabalho psicomotor que pode ser feito através de brincadeiras lúdicas, atividades rítmicas, canto e mímicas - todas ensinam as crianças a usar o corpo como porta de comunicação. 

Com tudo isso, entendemos que implementar a dança nas escolas significa dar às crianças não só um amadurecimento mais saudável, mas também o desenvolvimento de suas próprias potencialidades ainda cedo - seja no sentido de aprimorar da sua dança, na sua forma de ver o mundo e se relacionar consigo mesmo, no seu jeito de expressar e em seu próprio processo de autoconhecimento sobre seus limites, erros e acertos.


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Isso quer dizer que começar cedo não significa apenas prover melhores ferramentas para que as crianças cresçam e se desenvolvam na fase adulta. A infância é uma fase diferente de todas as outras da vida, em que o aprendizado ocorre muito mais rápido e de maneira muito mais interligada. Fazer com que a criança interaja com o mundo e consigo mesma possibilita um crescimento mais saudável do ponto de vista físico, cognitivo, afetivo e corporal.

Além do desenvolvimento geral, a dança pode ser um excelente suporte no que diz respeito a algumas questões específicas. Através dela a criança pode se sentir desafiada, conhecendo e aprendendo a lidar com sentimentos de satisfação e competência, no caso de conseguir realizar um movimento, bem como frustração e incompetência, no caso de não conseguir. Ela passa a entender, aos poucos, seus limites e limiares de superação, o que aumenta a percepção sobre si mesma. 

Por que isso é tão importante? Dança não é apenas a execução mecânica de movimentos. Ações comuns como pular, correr e deslizar só se tornam dança quando damos um outro sentido e objetivo a elas - ou seja, quando damos a elas uma intencionalidade, uma expressão. Na infância, não temos todos os recursos necessários para nos expressar - fala, desenhos, pinturas, por exemplo, são desenvolvidas com o tempo e passam a ser meios de expressão. O corpo, através dos gestos, das posturas e das reações, é um excelente meio que os pequenos podem usar desde muito cedo para se expressar. E dar ciência disso à criança estimula não só a expressão consciente e a sua criatividade, como todas as áreas da sua vida.

Consciência corporal e expressão: por que a dança deve ser ensinada às crianças ainda na escola

Maria Cristina Lopes Quando a mente está leve a dança flui Psicologia da dança