Maria Cristina Lopes Quando a mente está leve a dança flui Psicologia da dança
maria cristina lopes psicóloga da dança
bailarina se alongando

REFERÊNCIAS:

Langdon, S. W., & Petracca, G. (2010). Tiny dancer: Body image and dancer identity in female modern dancers. Body Image, 7(4), 360-363.

Ackard, D. M., Henderson, J. B., & Wonderlich, A. L. (2004). The associations between childhood dance participation and adult disordered eating and related psychopathology. Journal of Psychosomatic Research, 57(5), 485-490.

Dantas, A. G., Alonso, D. A., Sánchez-Miguel, P. A., & del Río Sánchez, C. (2018). Factors Dancers Associate with their Body Dissatisfaction. Body image, 25, 40-47.


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Lopes, M. C. (2018, julho 17) O outro lado da dança: imagem corporal negativa e transtornos alimentares [Blog]. Recuperado de: http://www.mariacristinalopes.com/o-outro-lado-da-dan-a--imagem-corporal-negativa-e-transtornos-alimentares.html

O outro lado da dança: imagem corporal negativa e transtornos alimentares

Este aspecto pode sugerir que a causa de transtornos alimentares não é a insatisfação corporal ou distorção da imagem corporal, mas sim comportamentos aprendidos de controle de peso. Ackard, Henderson e Wonderlich (2004) defendem que o papel da dança nos riscos psicológicos dependem de alguns fatores, como: tempo de envolvimento com a dança e a intensidade das aulas (amador ou elite/profissional).

Os professores podem ser uma influência negativa sobre a satisfação corporal, em especial, em aulas de ballet clássico (Dantas et al., 2018). Esta influência externa sobre a satisfação corporal de bailarinos pode ocorrer devido às atitudes alimentares do professor que as demonstra em sala de aula ou em outras interações. Outra explicação para esta influência é o mercado do ballet clássico que exige o corpo magro e isso é perpetuado pelos professores de dança na expectativa sobre os corpos de seus alunos.

Isso também pode levar a comentários dos colegas de sala e estimular conversas sobre atitudes prejudiciais à satisfação corporal. “Seus comentários e atitudes são frequentemente percebidos pelos estudantes como prejudiciais e são interpretados por eles como uma confirmação da importância da magreza no contexto da dança” (Dantas et al., 2018, p. 44, tradução livre). Estas questão geram atitudes como o controle do peso e a comparação física entre os pares.

A cultura da dança pode ser um fator de risco uma vez que estudantes percebem que bailarinos mais magros recebem melhores coreografias e papéis. O reforço social quando o bailarino perde peso também é um fator a ser observado. Os autores sugerem ainda que o uso de espelhos na sala de aula, a exposição de imagens de bailarinos muito magros e a rigidez com o uniforme escolar também podem levar à insatisfação corporal (Dantas et al., 2018).

Os bailarinos podem se sentir desconfortáveis com determinado uniforme e não é permitido que usem roupas mais largas e confortáveis por cima podem se sentir expostos. Já a exposição de imagens de bailarinos magros na escola pode ser apenas um dos sinais da cultura da magreza da dança – em especial, em determinadas modalidades, como o ballet clássico. Portanto, esta pode não ser a questão principal ou a causa da insatisfação corporal, mas demonstra o contexto insalubre.

Já o uso de espelhos pode ser um fator de risco para a insatisfação corporal. Obviamente em aulas de dança o uso de espelhos é absolutamente comum. Porém, os autores sugerem que o uso do espelho não seja indiscriminado. Desta forma, é importante investigar a cultura da escola de dança e de que maneira os alunos de uma turma específica lida com os próprios corpos. É interessante em alguns casos promover aulas com outra composição, manejo e métodos de ensino.

Os autores sugerem que a principal forma de abordar a questão em escolas de dança é através de treinamento com os próprios professores sobre o tópico. Obviamente também é importante a presença de profissionais, como o psicólogo e o nutricionista, para avaliar e trabalhar individualmente e no grupo estas questões.


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Palavras-chave: dança, autoestima, imagem corporal, transtornos alimentares.

Maria Cristina Lopes. Sou formada pela PUC-Rio e mestre pela Universidade de Coimbra. Trabalho com a dança desde 2013 e desenvolvi o 1º curso de psicologia da dança do Brasil em 2016. Sou defensora da área de psicologia da dança, atendo bailarinos, ofereço consultoria para escolas e companhias e capacito professores e psicólogos nesta área promissora.
Contatos: mariacristinalopes@gmail.com | +55 21 990922685

Muitos artigos demonstram a importância da dança como forma de terapia complementar para depressão, ansiedade e estresse. A dança também produz efeitos positivos no bem-estar além de auxiliar no tratamento de algumas doenças, como demências. Porém, a dança também pode levar a comportamentos inadequados insalubres. A população possivelmente mais afetada é de mulheres que dançaram enquanto jovens que ainda carregam o peso da valorização da magreza.

“Resultados do presente estudo indicam que mulheres que participaram em aulas de dança ou ballet enquanto jovens estão mais propensas a pontuar escores mais altos em escolas de mensuração de transtornos alimentares (Ackard, Henderson & Wonderlich, 2004, p.488). Porém, evidências sugerem que ballet moderno tem efeito positivo sobre a imagem corporal (Langdon & Petracca, 2010, tradução livre). Além disso, bailarinos modernos apresentaram foco em competência ao invés de foco em aparência.

“O fato destes resultados apresentarem uma diferença significativa em comportamentos alimentares, mas não em satisfação com imagem corporal entre dançarinos e não dançarinos sugere que a diferença entre mulheres que dançaram enquanto jovens e aquelas que não dançaram não é simplesmente uma questão de imagem corporal” (Ackard, Henderson & Wonderlich, 2004, p. 488, tradução livre).


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