Maria Cristina Lopes Quando a mente está leve a dança flui Psicologia da dança

Gabriela Romão. Jornalista formada pela Universidade de São Paulo (USP), é especializada em escrita científica. Estuda dança desde 2016, com ênfase em modalidades de dança de salão.

Contatos: gabi.r.romao@gmail.com | @romaogabriela

Gerente do processo de aprendizagem

A partir deste entendimento, torna-se possível ao professor elaborar estratégias diretas para atacar cada etapa ou aspecto do processo de aprendizagem, de maneira mais certeira e eficaz, gerenciando corretamente a jornada de aprendizado do aluno. Aliás, este é um ponto importante: o professor é o gerente do processo de aprendizado (Lopes, 2020), e não o dono; com seus conhecimentos e habilidades, é papel dele atuar como um facilitador na construção do caminho do aluno ou dançarino na dança, sempre atento às demandas de seus ensinados, e não refém de seus próprios métodos.

P.S.: As teorias mencionadas são apenas algumas das abordadas no curso “Psicologia da Dança”, que abre periodicamente as inscrições para novas turmas e tem um módulo específico dedicado à aprendizagem na dança. Para conhecer mais sobre o curso, clique aqui.

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REFERÊNCIAS


Bandura, A. (1965). Influence of models’ reinforcement contingencies on the acquisition of imitative responses. Journal of personality and social psychology, 1(6), 589.

Bandura, A. (1969). Social-learning theory of identificatory process. Handbook of socialization theory and research, 213, 262.

Bandura, A. (1975). Analysis of modeling process. School Psychology Digest.

Ferracioli, L. (2007). Aprendizagem, desenvolvimento e conhecimento na obra de Jean Piaget: uma análise do processo de ensino-aprendizagem em ciências. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, 80 (194).

Lopes, M.C. (2020). Curso psicologia da dança: temas e perspectivas. Editora Garcia. Juíz de Fora, MG.

Neves, R. D. A., & Damiani, M. F. (2006). Vygotsky e as teorias da aprendizagem, UNIrevista.

Ronca, A. C. C. (1994). Teorias de ensino: a contribuição de David Ausubel. Temas em psicologia, 2 (3), 91-95.



COMO FAZER REFERÊNCIA A ESTE ARTIGO: 

Lopes, M. C. (2022, abril 12) Por que estudar teorias de aprendizagem na dança? [Blog]. Recuperado de: https://www.mariacristinalopes.com/por-que-estudar-teorias-de-aprendizagem-na-dan-a-.html

Teorias da aprendizagem na dança

Existem dezenas de teorias de aprendizagem desenvolvidas por diversos estudiosos do tema, mas para contribuição no contexto da dança, quatro delas podem ser destacadas.

A começar por Piaget, que desenvolve o conceito de esquemas como uma forma de organização mental do conhecimento (Ferracioli, 2007). De acordo com Piaget, para o aprendizado se concretizar, alguns processos precisariam acontecer no indivíduo, como a assimilação (internalização de uma informação exterior aos seus esquemas internos) e a acomodação (ajuste dos seus esquemas internos à nova informação). Observar um novo giro é um processo de assimilação; ajustar seu equilíbrio corporal para executá-lo é um processo de acomodação. Maturação também seria importante, já que diversas competências precisariam ser adquiridas antes que o indivíduo fosse capaz de assimilar novos conhecimentos.

Por que tudo isso é importante para o ensino da dança? Conhecer esses processos pode levar um professor a compreender porque seus alunos talvez não consigam executar aquele movimento “difícil” - será que eles tiveram tempo o suficiente com o movimento para acomodá-lo e maturá-lo? Será que seus corpos têm a maturidade necessária para desenvolver bem aquele movimento, com boas bases de equilíbrio, força ou mobilidade? Essas perguntas são essenciais para pensar em aulas que foquem em fundamentos, ou mesmo em um planejamento que dê tempo para a assimilação, acomodação e maturação do conhecimento no indivíduo.

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O segundo teórico que vale a atenção é o russo Vygotsky (1987, como citado em Neves & Daminani, 2006), responsável pelo desenvolvimento da teoria da Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP), que nada mais é do que o período em que o aprendizado ainda não é real e independente. Esta zona trata de tarefas que o indivíduo ainda não domina sozinho, mas que consegue realizar com a ajuda de outra pessoa. É a aprendizagem que acontece com apoio social.

Aqui, o mais importante é perceber que cada aluno/dançarino tem um ZDP diferente, com movimentos diferentes, e isso exigirá um comportamento diferente do professor com relação a cada um deles. Alunos com mais dificuldade para executar um movimento ou aprender uma coreografia demandarão maior atenção e suporte do professor, que precisa criar estratégias e dedicar o seu tempo para levá-lo à independência.

Ausubel é o terceiro teórico desta lista, por ter desenvolvido a teoria da aprendizagem significativa. Essa teoria se baseia em conhecimentos prévios do indivíduo como ponto de partida para a construção de novos conhecimentos (Ronca, 1994). Nenhum dos estudiosos tocam em um ponto tão crucial quanto Ausubel quando o assunto é continuidade de trabalho. Ter um plano estruturado do que se quer ensinar, com uma ordem lógica de evolução de dificuldade, sempre com base em movimentos prévios, é um caminho inteligente para a evolução dos dançarinos.


O rol de teóricos aqui abordado é fechado por Bandura (1965, 1969, 1975), que salienta a importância da aprendizagem por observação para o desenvolvimento de estratégias de ensino adequadas. Isto, porque os alunos elegem modelos entre professores e também entre seus pares, nos quais se baseiam, e passam a imitá-los. Embora esse já pareça ser o método mais utilizado para ensino na dança, nem sempre isso é feito de maneira orientada em aula, com dinâmicas que valorizem a observação individual e a identificação de acertos e erros que possam nortear os outros alunos.

Maria Cristina Lopes. Sou formada pela PUC-Rio e mestre pela Universidade de Coimbra. Trabalho com a dança desde 2013 e desenvolvi o 1º curso de psicologia da dança do Brasil em 2016. Sou defensora da área de psicologia da dança, atendo bailarinos, ofereço consultoria para escolas e companhias e capacito professores e psicólogos nesta área promissora.

Contatos: mariacristinalopes@gmail.com | +55 21 990922685

Por que estudar teorias de aprendizagem na dança?

No Brasil, é muito comum que a atividade de ensino na dança seja passada de “mestre para aprendiz”, ou seja, de professor para aluno – sem necessariamente contar com uma formação acadêmica em que haja a construção de conhecimento didático sobre a modalidade. Em outras palavras, professores aprendem a ser professores com seus próprios mestres, e descobrem, por tentativa e erro e por observação e pelo exemplo, quais estratégias funcionam para ensinar seus alunos.

É certo que esse processo já formou uma série de professores talentosos, seja pelo dom, curiosidade ou olhar apurado para entender as necessidades específicas de cada aluno e descobrir como atendê-las. Por outro lado, o corpo docente, sobretudo em modalidades de dança menos estruturadas que o balé clássico, por exemplo, sofre com a informalidade da formação, que carece de um conhecimento técnico específico sobre a arte de ensinar, bem diferente da capacidade técnica necessária para executar passos ou movimentos de dança.


Um dos caminhos para resolver essa lacuna encontrada na formação dos professores de dança no país está no estudo da psicologia da dança, e mais especificamente, das chamadas teorias de aprendizagem. Basicamente, tratam-se de teorias elaboradas por estudiosos, educadores e pedagogos que estudam a forma como os seres humanos passam a conhecer algo, ou simplesmente, a forma como se dá o seu processo de aprendizagem.