Maria Cristina Lopes Quando a mente está leve a dança flui Psicologia da dança

Quatro estratégias para você relaxar antes de uma apresentação de dança

4 – Ressignificar nossos medos

A estratégia mais eficiente e duradoura, mas também a mais difícil e demorada para lidar com a ansiedade nos palcos e no dia a dia da dança é ressignificar os nossos medos. Ter medo de se lesionar é adequado, ter medo o tempo todo a ponto de travar, não. Ter medo de uma apresentação ruim é perfeitamente normal, se preocupar com cada mínimo erro é exagero. A interpretação que você dá para cada situação é o que gera a ansiedade, e saber enxergá-la com outros olhos é o que nos dará ferramentas para lidar com nossos anseios.

Esse processo pode acontecer naturalmente numa conversa com amigos, após assistir a um filme ou uma série ou a partir de uma situação que provoque reflexão. Mas você também pode ser ativo nessa estratégia: a prática da psicoterapia é uma opção extremamente vantajosa e orientada nesse sentido. Mesmo sem auxílio profissional, uma dica é procurar identificar os sintomas e as causas da ansiedade, e a partir daí, questionar-se. O que eu diria a um amigo na mesma situação que eu? O meu medo é desproporcional? Qual a interpretação mais adequada para esta situação?

A questão não é dançar sem medo, e sim administrá-lo num nível saudável. Ressignificar as situações do nosso cotidiano representa o oposto de fugir do medo: é encará-lo de frente, a aprender a lidar com ele com estratégias boas e eficazes.

Maria Cristina Lopes. Sou formada pela PUC-Rio e mestre pela Universidade de Coimbra. Trabalho com a dança desde 2013 e desenvolvi o 1º curso de psicologia da dança do Brasil em 2016. Sou defensora da área de psicologia da dança, atendo bailarinos, ofereço consultoria para escolas e companhias e capacito professores e psicólogos nesta área promissora.

Contatos: mariacristinalopes@gmail.com | +55 21 990922685

1- Construir uma rede social de apoio

Nossos medos estão baseados em nossas crenças a respeito da realidade que nos cerca. A interpretação que temos das mais diversas situações pode nos fazer acreditar que não somos bons o suficiente, que há mais riscos do que realmente existem em determinada circunstância, que seremos julgados ou cobrados por nossos fracassos, entre outros pensamentos disfuncionais.

Por isso, contar com um ponto de vista diferente pode ser um grande aliado no controle das nossas emoções. Falar sobre suas dificuldades, preocupações e desafios a parceiros, amigos, familiares e professores pode não só trazer reflexões mais racionais para a causa dos seus medos, como também servir como um exercício de desabafo e de identificação das suas próprias fontes de ansiedade.


2- Distrair-se

Ainda que muitas vezes o medo esteja apoiado em pensamentos disfuncionais, boa parte dos nossos agentes causadores de ansiedade na dança não são infundados: eles têm uma razão de ser. Porém, pensar demais no problema pode ser justamente o problema para o desconforto físico e emocional gerado por ele: pensamentos excessivos sobre lesões, sobre os erros e fracassos estão no cerne do aumento descontrolado da ansiedade antes de uma apresentação. Ou seja, pode existir uma possibilidade muito pequena de um movimento gerar uma lesão ou de cometer algum erro na apresentação. No entanto, uma preocupação exagerada sobre eventuais problemas pouco prováveis não é adequada.

Por isso, uma estratégia de curto prazo extremamente eficiente é buscar distrair-se durante as horas que antecedem a entrada no palco. Para cada pessoa vai funcionar diferente: ouvir música, conversar com um colega sobre assuntos aleatórios e assistir vídeos são exemplos que podem ajudar a tirar o problema do foco dos seus pensamentos. Estudos comprovam que o alongamento acompanhado das músicas preferidas do dançarino é um ótimo redutor dos sintomas de estresse – e para pessoas ansiosas, essa estratégia pode ser utilizada todos os dias (Valim,Volp & Bergamaschi, Deutsch, 2002).

3 – Meditação

A meditação já é uma velha conhecida das estratégias redutoras de estresse e ansiedade, e sua prática também pode ajudar no controle das emoções, tanto a curto como a médio e longo prazo.

Para isso, é possível treinar e praticar em casa. Também existem diversos aplicativos que cumprem esse papel e são muito práticos por poderem ser utilizados com facilidade no celular, como o aplicativo Lojong.


>> Leia também: A dança e o medo: saiba o que pode estar causando esse sentimento e como lidar com ele

Apesar da dança ser considerada uma das melhores atividades para a redução de estresse e ansiedade, ela também pode ser uma fonte desse problema, tanto para bailarinos amadores quanto profissionais. O medo de errar ou de se lesionar, as cobranças excessivas, a preocupação com as críticas do círculo social e com o vexame, entre outros muitos fatores, são causadores de ansiedade e estão envolvidos no dia a dia da atividade da dança, especialmente em apresentações e competições.

Pesquisas mostram que os níveis de ansiedade de dançarinos costumam aumentar uma semana antes de eventos importantes, e esse aumento tem uma magnitude ainda maior na hora anterior à apresentação (Leite, De Mello & Antunes, 2016). E isso não é ruim: segundo Constantino, Prado & Lofrano-Prado (2010), níveis médios de ansiedade são extremamente benéficos ao bailarino, uma vez que provocam uma ativação no indivíduo (das emoções, da atenção, do comportamento, etc.). Contudo, níveis muito baixos, que podem favorecer a desatenção, ou níveis muito altos, que provocam um intenso desconforto físico e emocional, só tendem a prejudicar o desempenho do dançarino.


Logo, lidar com o medo e a ansiedade antes de uma apresentação de dança é condição primordial para alcançar resultados melhores no palco, ou mesmo se sentir mais feliz com a própria prática da atividade. Bailarinos experientes costumam administrar melhor suas emoções – mas apenas porque esse domínio é desenvolvido com prática e um trabalho a longo prazo. Mas existem estratégias de curto e médio prazo que também podem fazer toda a diferença na hora de se preparar ou de relaxar antes de uma apresentação. Confira nas dicas abaixo.

REFERÊNCIAS:


Constantino, A. C. S., Prado, W. L., & Lofrano-Prado, M. C. (2010). Ansiedade em bailarinos profissionais nas apresentações de dança. Conexões: Educação Física, Esporte e Saúde, 8(3), 146-155.

Leite, G. S. F., De Mello, M. T., & Antunes, H. K. M. (2016). Competição na dança clássica: um fator ansiogênico negativo?. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, 30(3), 793-803

Lopes, C. (2019). Dançar sem medo. Centro de Psicologia Movimente – Movimento e Dança.

Valim, P. C., Bergamaschi, E. C., Volp, C. M., & Deutsch, S. (2002). Redução de estresse pelo alongamento: a preferência musical pode influenciar. Motriz, 8(2), 18-25.

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COMO FAZER REFERÊNCIA A ESTE ARTIGO:


Lopes, M. C. (2020, abril 02). Quatro estratégias para você relaxar antes de uma apresentação de dança [Blog]. Recuperado de: https://www.mariacristinalopes.com/quatro-estrat-gias-para-voc--relaxar-antes-de-uma-apresenta--o-de-dan-a.html

Gabriela Romão. Jornalista formada pela Universidade de São Paulo (USP), é especializada em escrita científica. Estuda dança desde 2016, com ênfase em modalidades de dança de salão.

Contatos: gabi.r.romao@gmail.com | @romaogabriela