Maria Cristina Lopes Quando a mente está leve a dança flui Psicologia da dança

Gabriela Romão. Jornalista formada pela Universidade de São Paulo (USP), é especializada em escrita científica. Estuda dança desde 2016, com ênfase em modalidades de dança de salão.

Contatos: gabi.r.romao@gmail.com | @romaogabriela

REFERÊNCIAS:

Lopes, M.C. (2019). Curso psicologia da dança: temas e perspectivas. Editora Garcia. Juíz de Fora, MG.

COMO FAZER REFERÊNCIA A ESTE ARTIGO: 

Lopes, M. C. (2020, outubro 22) Tudo o que você precisa saber sobre o desenvolvimento da dança como terapia
 [Blog]. Recuperado de: https://www.mariacristinalopes.com/

Maria Cristina Lopes. Sou formada pela PUC-Rio e mestre pela Universidade de Coimbra. Trabalho com a dança desde 2013 e desenvolvi o 1º curso de psicologia da dança do Brasil em 2016. Sou defensora da área de psicologia da dança, atendo bailarinos, ofereço consultoria para escolas e companhias e capacito professores e psicólogos nesta área promissora.

Contatos: mariacristinalopes@gmail.com | +55 21 990922685

3 - Faça parceria com outros profissionais

Essa é a forma talvez mais empregada para o desenvolvimento de terapias de dança bem estruturadas e efetivas naquilo que se propõem. É comum que professores de dança, que têm um conhecimento amplo de sua modalidade e campo de estudo, se unam a psicólogos para se orientar ou mesmo para dividir as funções ao propôr a dança como terapia. Mas não é uma questão restrita: médicos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, nutricionistas, educadores físicos, enfim, uma gama de profissionais podem ser acionados dependendo das necessidades, tanto dos professores quanto do público de interesse.

O mais importante, nesse caso, é reunir profissionais que compartilhem dos seus valores e entendam efetivamente o impacto que a dança pode causar naqueles que vão se beneficiar de uma terapia desse tipo. Assim, é possível desenvolver um trabalho completo de assistência, menos baseado em achismos e experimentações e mais fundamentado e multifacetado em seus conhecimentos e aplicações.

4 - Crie um método estruturado de trabalho

Esse item reúne, de certa forma, tudo o que já foi visto até aqui. É muito difícil que um profissional de dança resolva, da noite para o dia, trabalhar com uma população vulnerável ou melhorar algum aspecto específico da vida de seus alunos através da dança. O que acontece geralmente é que, no seu dia a dia, essas questões se apresentam a ele através de um ou mais alunos com a mesma característica que naturalmente são beneficiados pela prática da dança de maneira experimental e não estruturada.


Dessa forma, o trabalho não tem como acontecer, no início, partindo de um projeto estruturado para depois ocorrer a prática. Mas a partir do momento em que se decide trabalhar com um determinado público, é importante voltar aos primeiros itens e criar métodos estruturados especificamente para as necessidades dele. Estude muito, planeje, faça adaptações nas aulas, se necessário, e principalmente, esteja atento à sua didática e sua atitude - em muitos casos, ela será a principal diferença entre uma aula de dança comum e uma terapia efetiva de dança.

5 - Avalie periodicamente os resultados

Com muito conhecimento em mente e o projeto em mãos, é hora de fortalecer o trabalho junto a seus alunos e estabelecer parâmetros para descobrir a efetividade da terapia de dança para o seu público. Definir um período a ser avaliado, como seis meses ou um ano, por exemplo, ou um objetivo de conclusão, como uma coreografia de final de ano, são boas maneiras de mensurar os resultados obtidos com a terapia complementar.

Lembre-se: cada necessidade do seu público exigirá parâmetros diferentes de avaliação. E nem sempre será preto no branco, como um questionário; uma entrevista baseada na experiência dos seus alunos ou suas famílias, mais qualitativa do que quantitativa, pode ser o suficiente em muitos casos. Seja como for, procure ser crítico e entender o melhor possível o impacto do seu trabalho em seus alunos.

Por fim, é importante frisar: a dança não é a solução para tudo, em nenhuma situação, assim como nenhuma forma de terapia, sozinha, é. Terapias de dança funcionam como terapias complementares, com o intuito de potencializar os resultados das terapias tradicionais. O tratamento de qualquer doença ou questão humana é multifacetada, multidisciplinar e deve considerar o indivíduo como um todo, em todas as suas necessidades.


>> Leia também: O que é a psicologia da dança?

1 - Conheça bem a relação entre corpo, mente e movimento

Para desenvolver uma terapia de dança, é necessário considerar o indivíduo como um todo. Muitas doenças têm sintomas físicos que podem ser trabalhados pela dança, como equilíbrio e fluidez do movimento, assim como outras têm implicações mais mentais ou emocionais (como a ansiedade e depressão), que também podem ser tratadas por um outro caminho através da dança. Porém, em suma, o indivíduo funciona como um só - o que quer dizer que a melhora de sintomas físicos terá um efeito na saúde mental do indivíduo, e vice versa.

Por isso, o profissional que quiser desenvolver uma terapia de dança deve estudar os movimentos e suas implicações físicas e mentais nos indivíduos, a fim de compreender o que pode ser melhor empregado para o seu público de interesse. Experimentações práticas funcionam, mas a busca de autores contemporâneos na literatura, que enxerguem os movimentos de maneira mais orgânica com relação aos indivíduos, são uma boa pedida. Um bom exemplo nesse campo é o bailarino e estudioso húngaro Rudolf Laban, mas não é necessário se limitar a teorias da dança; estudos que tragam à luz a relação entre movimento e sinais mentais ou emocionais, geralmente promovidos por psicólogos, também são interessantes nesse sentido. 


2 - Estude a fundo o problema/questão a ser tratado

Quando falamos em terapias de dança, estamos falando de linguagens de dança criadas para ou aplicadas em populações específicas, muitas vezes já vulneráveis por conta de questões de saúde, faixa etária ou traumas de diversas ordens. Por isso, é imprescindível conhecer a fundo as características gerais do seu público e as necessidades mais pontuais para as quais você acredita que a dança pode contribuir para melhorar, para evitar que o resultado seja o oposto e prejudique seus alunos.

Então, se o objetivo for trabalhar com crianças autistas, por exemplo, é necessário entender quais são as características do autismo, seus diferentes espectros, quais questões pontuais podem ser trabalhadas pela dança e principalmente, qual o histórico e as particularidades de cada um dos seus alunos. Isso ajudará a adaptar a dança a cada um deles e a integrar a terapia de dança aos métodos tradicionais, já empregados efetivamente no tratamento daquela população. Isso vale para qualquer público com que se deseje trabalhar.

Já é notório e amplamente estudado os efeitos da dança para o bem estar e saúde dos indivíduos, tanto do ponto de vista físico como mental. Mas o que é menos conhecido e divulgado é que a dança pode ser uma ótima forma de terapia complementar para diversas moléstias que afetam os seres humanos, desde doenças como Parkinson e autismo até transtornos mais recorrentes, como ansiedade e depressão.

Quando ministradas com o propósito claro de terapia para questões específicas, seja relacionadas a doenças ou a aspectos psíquicos do indivíduo (como aumento da autoestima, por exemplo), essas atividades são chamadas de terapias de dança. As terapias de dança costumam funcionar de duas maneiras principais e distintas: seus criadores podem fazer adaptações em modalidades que já existem para determinado público-alvo, com o propósito terapêutico; ou pode-se criar uma modalidade totalmente nova, cujos movimentos são voltados totalmente às necessidades terapêuticas do público de interesse.

Um dos tipos mais conhecidos é a dança movimento terapia, definida pela American Dance Therapy Association como o uso psicoterapêutico do movimento para promover questões emocionais, sociais, cognitivas e integração física do indivíduo com o propósito de melhorar bem-estar e saúde. Para além dos Estados Unidos, diversos países contam com terapias de dança voltadas ao tratamento complementar de doenças como o autismo, Parkinson, ansiedade e depressão, mas também de problemas específicos causados por traumas como abuso sexual ou característicos de determinada fase da vida, como o envelhecimento (você pode saber mais sobre isso clicando aqui).


Atualmente, não existe um órgão regulatório para o desenvolvimento desse tipo de prática, o que faz com que existam milhares de exemplos de uso terapêutico da dança ao redor do mundo, cada um com suas especificidades - e muitos deles sequer mapeados pela literatura. Então, se não existem regras ou parâmetros oficiais, como definir a efetividade de uma terapia da dança? O que é necessário para que alguém seja um bom terapeuta para a população a que se propõe a assistir? 

Com essas perguntas em mente, elaboramos alguns passos essenciais para profissionais que queiram aplicar seus conhecimentos para o uso psicoterapêutico dos movimentos. Confira!


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O desenvolvimento de terapias de dança