REFERÊNCIAS:

Dias, C., Cruz, J. F., & Fonseca, A. M. (2009). Emoções, stress, ansiedade e coping: estudo qualitativo com atletas de elite. Revista Portuguesa de Ciências do Desporto, 9(1), 9-23.


Lopes, M.C. (2019). Curso psicologia da dança: temas e perspectivas. Editora Garcia. Juíz de Fora, MG.


COMO FAZER REFERÊNCIA A ESTE ARTIGO: 

Lopes, M. C. (2020, setembro 15) Estratégias de enfrentamento: como dançarinos podem lidar com problemas na pandemia e no retorno à dança​ [Blog]. Recuperado de: https://www.mariacristinalopes.com/

Aqui, entramos na segunda estratégia: o planejamento. Refazer todos os planos relacionados à dança e à vida é praticamente medida obrigatória nesse momento. Para muitos, isso significa o adiamento dos sonhos; para outros, procurar novas formas de dar ou de fazer aulas; estabelecer uma nova rotina de treinos pode ser essencial para alguns, assim como um novo planejamento financeiro será o carro chefe para a maioria. Planejar quais serão os próximos passos e estabelecer metas e objetivos, mesmo que não sejam imediatos, são boas formas de enfrentamento para muitos problemas do momento.

O chamado coping ativo também pode ser útil, e se concentra justamente em uma atitude mais ativa diante das situações difíceis, que se converte em esforço e trabalho. É procurar e colocar em prática soluções para o problema - não a pandemia em si, mas para suas consequências, como a diminuição dos recursos e o baixo número de alunos nas academias. Buscar fontes alternativas de renda têm sido uma solução temporária (ou mesmo permanente) bastante adotada por profissionais, assim como a manutenção de aulas online com o retorno das presenciais, a fim de atrair mais alunos com segurança.

Estratégias de caráter paliativo também podem ser bastante necessárias. A reavaliação positiva da situação, com autoverbalizações, pensamentos positivos e mudanças de perspectiva, podem ajudar muitos dançarinos, dependendo do perfil. Também entra nessa categoria a busca de apoio emocional - em tempos de distanciamento social, em que mesmo atividades presenciais mantém certa frieza física das relações, manter-se próximo da família e dos amigos, ainda que no universo online, é um suporte básico de saúde emocional. 


Por fim, estratégias que costumam ter menos ibope - ou até serem consideradas negativas - fazem parte do momento que vivemos e devem ser utilizadas para enfrentamento dos problemas. A redução da tensão através do autocontrole emocional, como ouvir música ou fazer exercícios de relaxamento ou respiração para manter a calma são medidas pontuais bem vindas. A autodistração e o esquecimento também devem ser adotados em muitos casos - eles são essenciais para se desligar dos problemas por uma parte do dia e viver seu cotidiano, realizando atividades como tomar banho, cozinhar, comer e dormir, ou mesmo algum hobbie e estar com as pessoas queridas, com tranquilidade e qualidade de vida.

Oitenta e cinco por cento. Essa é a estatística que representa, no Brasil, a porcentagem de profissionais do ramo da arte e do espetáculo que trabalham sem vínculo empregatício no país, ou seja, sem carteira e por conta própria. Número bem acima dos 40% encontrado para a maioria das outras ocupações. Em tempos de pandemia, não ter vínculo empregatício em uma atividade considerada por muitos “não essencial”, como a dança, significa, no mínimo, uma queda considerável da renda dos profissionais do ramo, que já é instável. E em casos piores, o sinônimo disso são sérias dificuldades financeiras.

Problemas com dinheiro são apenas alguns dos enfrentados por escolas, professores e alunos de dança por todo o país durante a pandemia - esses, especificamente, os grandes motivadores do retorno de atividades para muitas academias e companhias em algumas regiões. Esse retorno, em consonância com um mundo pandêmico, traz ainda outros desafios, como o aumento dos níveis de ansiedade de maneira geral, necessidade de replanejamento de carreira, ânsia de recuperar o tempo perdido, entre tantos outros específicos de cada profissional ou amador do ramo.

Esses problemas podem ser enfrentados das mais diversas formas, e cada caso particular necessita de sua própria avaliação pessoal em busca de soluções ou estratégias para lidar com suas questões. Dias, Cruz e Fonseca (2009), no entanto, estudaram algumas estratégias utilizadas por dançarinos para coping - palavra em inglês que significa enfrentamento, mas de situações problemáticas, difíceis.

Uma delas, e o primeiro passo para assumir uma posição mais ativa diante dos diversos problemas causados pela pandemia ou pelo retorno das atividades, é a aceitação. Nesse momento, a não aceitação do momento difícil que vivemos pode significar para muitos dançarinos o endividamento, lesões ou até mesmo a contração da doença, para aqueles que negam a sua periculosidade ou existência. Ser flexível para fazer as mudanças necessárias diante da pandemia, seja redução de gastos, treinos mais leves ou adotar as medidas de segurança recomendadas, é essencial para um retorno saudável.


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Maria Cristina Lopes Quando a mente está leve a dança flui Psicologia da dança

Estratégias de enfrentamento: como dançarinos podem lidar com problemas na pandemia e no retorno à dança

Maria Cristina Lopes. Sou formada pela PUC-Rio e mestre pela Universidade de Coimbra. Trabalho com a dança desde 2013 e desenvolvi o 1º curso de psicologia da dança do Brasil em 2016. Sou defensora da área de psicologia da dança, atendo bailarinos, ofereço consultoria para escolas e companhias e capacito professores e psicólogos nesta área promissora.

Contatos: mariacristinalopes@gmail.com | +55 21 990922685 

Gabriela Romão. Jornalista formada pela Universidade de São Paulo (USP), é especializada em escrita científica. Estuda dança desde 2016, com ênfase em modalidades de dança de salão.

Contatos: gabi.r.romao@gmail.com | @romaogabriela

Outras estratégias não mencionadas pelos autores também tendem a ser de grande ajuda. A comunicação é peça-chave para a manutenção de boas relações, aumento da sensação de segurança e para a solução de problemas nesse período. É importante que as escolas sejam claras com relação às medidas que tomam para proteger seus alunos do novo coronavírus ao retorno às aulas; é importante conversar com seus familiares sobre o que está sendo feito para mitigar os riscos, caso você more com eles e esteja retornando às atividades; e é importante usar a comunicação para renegociar dívidas ou remanejar gastos, procurando possibilidades com as instituições à sua volta.

Por fim, é preciso também paciência. O momento de retorno às atividades pode ser extremamente frustrante para alunos e profissionais, cujos corpos podem estar menos acostumados à dança e limitados tecnicamente pelo tempo parado ou menos ativo. Investir em trabalhos de fortalecimento e flexibilidade e dosar a intensidade dos treinos, sem forçar demais, é primordial para evitar lesões. A paciência também será ferramenta de grande utilidade para aqueles que anseiam arduamente para que as coisas retornem ao que eram antes, no geral.

Vale dizer: aceitação demais pode se transformar em conformismo, sem busca ativa por soluções; planejamento sem ação não sai do papel; esforço sem distração resulta em estresse e ansiedade; e esquecimento demais pode cair em negação do problema. O que isso significa? Que não há estratégia certa ou errada, nem uma ordem definida: escolhê-las, diversificá-las e dosá-las de acordo com a situação é o verdadeiro desafio que cada diretor, empresário, bailarino, professor, coreógrafo ou aluno terá que aprender a enfrentar.


Essas são apenas algumas estratégias. Existem infinitas. E é papel de cada um encontrar o seu blend, seu pacote de soluções para enfrentar os problemas que se avizinham no novo normal.

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