Maria Cristina Lopes Quando a mente está leve a dança flui Psicologia da dança

3 - Ansiedade e depressão

Pessoas que sofrem de ansiedade e/ou depressão podem se beneficiar imensamente da prática da dança. Embora não exclua o tratamento com um psicólogo e a medicação, se necessária, a dança e as atividades físicas em geral têm apresentado os melhores resultados para prevenção dos sintomas depressivos, como fadiga, prejuízo no funcionamento social, humor deprimido, perda de interesse e prazer, entre outros. Os estudos mostram que a dança movimento terapia, em especial, pode ser bastante efetiva na melhora da qualidade de vida (Ritter & Low, 1996) e no combate ao isolamento social (Murrock & Graor, 2016).

Com relação à ansiedade, a prática da dança enquanto atividade física têm consequências fisiológicas que por si só já são bastante efetivas na diminuição do estresse, e combinada ao seu caráter lúdico e social, permite ao indivíduo se expressar e interagir com mais liberdade. Para saber mais sobre como a dança pode ser uma ótima terapia para a ansiedade, clique aqui.

4 - Dores crônicas

A dança movimento terapia focada no combate às dores crônicas é conhecida como biodanza, modalidade fundada pelo chileno Rolando Toro (1924-2010). Segundo seu próprio criador, a biodanza é “um sistema de aceleração de processos integrativos nos níveis celular, metabólico, neuroendócrino, imunológico e existencial, através de ambiente enriquecido, com música específica, movimento integrado, carícias e encontro grupal, que desencadeiam vivências integrativas”. 

Os resultados desse tipo de terapia foram testados com pacientes que sofrem de fibromialgia, uma síndrome clínica que se manifesta com dor no corpo todo, principalmente na musculatura, acompanhada de fadiga, cansaço, entre outros sintomas. Estudos mostram que sessões semanais de biodanza foram efetivas para a redução da dor (Carbonell-Baeza, 2010; Segura-Jiménez, 2017), embora existam tratamentos mais eficazes.


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Parecem indiscutíveis os benefícios trazidos pelas diferentes modalidades de dança para seus praticantes: segundo diversos estudos, ajudam a melhorar a coordenação motora, a memória, combatem o estresse e ainda são uma ótima forma de socialização. O que não é senso comum, porém, é que a dança pode ser de fato utilizada como terapia para diversos complexos, doenças e situações, funcionando como tratamento complementar e sendo bastante efetivo quando combinado a outros métodos já consagrados pela ciência.

A dança movimento terapia, como é chamada esse tipo de tratamento, é definida pela American Dance Therapy Association como o uso psicoterapêutico do movimento para promover questões emocionais, sociais, cognitivas e integração física do indivíduo com o propósito de melhorar bem-estar e saúde. Geralmente, consiste em terapias baseadas em sequências de movimentos, criados especificamente com o propósito de terapia para determinadas moléstias ou adaptados de danças tradicionais para determinados grupos de interesse.

A seguir, confira seis grupos em que a dança pode ser um dos melhores tratamentos, desde que conduzida por profissionais qualificados e apoiada por outras terapias. 


1 - Parkinson

Como apontam Westbrook & McKibben (1989), os principais sintomas do Parkinson são: lentificação da motricidade fina, tremor, postura anormal, problemas na fala e rigidez na locomoção. Estudos mostram que a dança movimento terapia voltada à grupos de idosos com Parkinson ajuda a melhorar o humor, promove o equilíbrio, melhora a postura e espasmos e ainda diminui o risco de queda (Hackney & Earhart, 2010; ADTA; Earhart, 2009).

2 - Autismo

A dança como terapia complementar para populações autistas é uma descoberta relativamente recente, e precisa ser aplicada com muito cuidado e com profissionais capacitados especificamente para a tarefa. Existem diversos graus de autismo, mas estudos apontam que, sobretudo na primeira infância, existe uma forte ligação entre o desenvolvimento do movimento e da comunicação - campo em que se encontram as principais deficiências de indivíduos autistas (Iverson, 2010).

Explorando o uso da reflexão, harmonia, interações de movimentos sincronizados, técnicas de espelho e ritmo, a dança movimento terapia tem ajudado crianças autistas a conhecer melhor a si mesmas, bem como a melhorar sua interação com o mundo. O trabalho da dança com autistas é complexo e envolve os familiares, ambientes e objetos propícios a cada indivíduo. Conheça mais sobre como essa terapia é desenvolvida aqui.

REFERÊNCIAS:


ADTA. (2015). Dance/Movement Therapy & Parkinson’s Disease. Recuperado de: https://adta.org/wp-content/uploads/2015/12/DMT-with-Parkinsons-Disease.pdf

American Dance Therapy Association. (2009). Retirado de http://adta.org/About DMT.

Benetii, F. A. (2015). A dança sênior como recurso terapêutico para idosos. ABCS Health Sci; 40(1):4-5

Carbonell-Baeza, A., Aparicio, V. A., Martins-Pereira, C. M., Gatto-Cardia, C. M., Ortega, F. B., Huertas, F. J., ... & Delgado-Fernandez, M. (2010). Efficacy of Biodanza for treating women with fibromyalgia. The Journal of Alternative and Complementary Medicine, 16(11), 1191-1200.

Earhart, G. M. (2009). Dance as therapy for individuals with Parkinson disease. European journal of physical and rehabilitation medicine, 45(2), 231. 

Hackney, M. E., & Earhart, G. M. (2010). Social partnered dance for people with serious and persistent mental illness: a pilot study. The journal of nervous and mental disease, 198(1), 76-78.

Iverson, J. M. (2010). Developing language in a developing body: The relationship between motor development and language development. Journal of Child Language, 37(2), 229 (abstract).

Klein L., Fogaça M., Silva T., Santos, D., Normann T., Schimitt V., Bernardi C., Oliveira A. Eu escolhi dançar: a prática de ballet clássico na terceira idade. Raízes e Rumos, Rio de Janeiro, v.7 n.2, p. 67-76, jul./dez. 2019.

Lopes, M.C. (2019). Curso psicologia da dança: temas e perspectivas. Editora Garcia. Juíz de Fora, MG.

Mills, L. J., & Daniluk, J. C. (2002). Her body speaks: The experience of dance therapy for women survivors of child sexual abuse. Journal of Counseling & Development, 80(1), 77-85.

Murrock, C. J., & Graor, C. H. (2016). Depression, social isolation, and the lived experience of dancing in disadvantaged adults. Archives of psychiatric nursing, 30(1), 27-34.

Ritter, M., & Low, K. G. (1996). Effects of dance/movement therapy: A metaanalysis. The Arts in Psychotherapy, 23(3), 249-260.

Segura-Jiménez, V., Gatto-Cardia, C. M., Martins-Pereira, C. M., Delgado-Fernández, M., Aparicio, V. A., & Carbonell-Baeza, A. (2017). Biodanza Reduces Acute Pain Severity in Women with Fibromyalgia. Pain Management Nursing, 18(5), 318-327. 

Sociedade Brasileira de Reumatologia (2011, abril 20). Fibromialgia – Definição, Sintomas e Porque Acontece. [Site Institucional]. Recuperado de: https://www.reumatologia.org.br/pacientes/orientacoes-ao-paciente/fibromialgiadefinicao-sintomas-e-porque-acontece/ 

Toro, R. (n.d.) O QUE É BIODANZA? [Site Institucional] Recuperado de: http://www.biodanzarolandotoro.com/pt-pt/
Westbrook, B. K., & McKibben, H. (1989). Dance/movement therapy with groups of outpatients with Parkinson's disease. American Journal of Dance Therapy, 11(1), 2738.

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COMO FAZER REFERÊNCIA A ESTE ARTIGO:


Lopes, M. C. (2020, junho 02).  Dança movimento terapia: 6 casos em que dançar pode ser o melhor remédio [Blog]. Recuperado de: https://www.mariacristinalopes.com/dan-a-movimento-terapia--6-casos-em-que-dan-ar-pode-ser-o-melhor-rem-dio.html

5 - Abuso sexual

Um estudo conduzido em 2002 por Mills e Daniluk apontou que traumas físicos são melhores acessados através de estratégias corporais. Conduzida com cinco mulheres e de caráter exploratório, essa pesquisa teve como resultado um saldo positivo da prática da dança para a reconexão das mulheres com seus corpos, aumento da aceitação e autocontrole, expressão autêntica de si mesmas e a melhora na conexão com o outro, benefícios relatados pelas próprias participantes. Logo, terapias baseadas no movimento podem ser alternativas  de apoio para superar traumas intimamente ligados ao corpo.


6 - Terceira idade

Como aponta Benetti (2015), o processo de envelhecimento é acompanhado de diversas alterações físicas e cognitivas que, em geral, acarretam prejuízos funcionais, emocionais e sociais ao idoso. Dificuldade de locomoção, perda das habilidades motoras, memória falha, solidão - com prejuízos que podem acarretar em ansiedade e depressão - são só alguns dos problemas com que esse grupo precisa lidar, tarefa em que a dança pode ser ferramenta essencial.

Diversos estudos mostram que as modalidades de dança tradicionais são extremamente benéficas para o idoso: elas podem ajudar a fortalecer a musculatura, e o equilíbrio, tornando o indivíduo mais independente (Shanahan et. al., 2016); ajudam na melhora da coordenação motora, consciência corporal e memória, aumentando a autoestima (Klein, et. al., 2019) e ainda promovem intensa integração social, tudo em prol de um envelhecimento ativo e saudável (saiba mais sobre isso aqui).

Existe ainda uma modalidade de dança voltada especificamente ao idoso: a Dança Sênior. , A modalidade trabalha com o corpo através de coreografias criadas a partir de músicas instrumentais e movimentos ritmados, pensados especificamente para essa faixa etária. É realizada em grupo e com seus participantes em círculo, ora sentados, ora em pé; ora em pares, em fileiras ou dispersos pelo salão. A atividade é considerada valiosa para pessoas idosas, pois desenvolve a vida em comunhão com outros.


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Maria Cristina Lopes. Sou formada pela PUC-Rio e mestre pela Universidade de Coimbra. Trabalho com a dança desde 2013 e desenvolvi o 1º curso de psicologia da dança do Brasil em 2016. Sou defensora da área de psicologia da dança, atendo bailarinos, ofereço consultoria para escolas e companhias e capacito professores e psicólogos nesta área promissora.

Contatos: mariacristinalopes@gmail.com | +55 21 990922685

Dança movimento terapia: 6 casos em que dançar pode ser o melhor remédio

Gabriela Romão. Jornalista formada pela Universidade de São Paulo (USP), é especializada em escrita científica. Estuda dança desde 2016, com ênfase em modalidades de dança de salão.

Contatos: gabi.r.romao@gmail.com | @romaogabriela